quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

comercio brasil x cuba: Porto Mariel e BNDES


Como trabalhei prestando serviços para Odebrecht fora do país, vi que ao longo dos tempos, nos mercados e lojas desses países a cada dia que passava, encontrava cada vez mais produtos fabricados no Brasil.
Quando estourou os problemas da Lava Jato e os empréstimos do BNDES para as construtoras foram paralisados, os produtos brasileiros começaram a perder espaço nos mercados desses países.
Estou eu, deduzindo por minha própria lógica, que os empréstimos do BNDES, a juros relativamente baixos, estariam ligados a algum tipo de acordo comercial entre o Brasil com os países tomadores do empréstimo.
Fui ao site do Ministério de Indústria e Comércio Exterior e eis que resolvi baixar todas as informações de importação/exportação do Brasil para os países onde as Construtoras Brasileiras estavam presentes. Os dados disponíveis eram de 2000 a 2016 (na época).
Os números do governo PT, e após a atuação do BNDES mostraram uma situação que poucas pessoas realmente conhecem. A exportação de produtos e serviços para os países onde o BNDES atuava foi multiplicada por 4 ou 5 vezes e a balança comercial brasileira com esses países teve um boom.
Resolvi pegar um caso específico do comercio Brasil x Cuba.

Entre 2000 e 2002 (antes do PT)

·         Exportação para Cuba: US$ 94 milhões / ano (média)
·         Importação de Cuba: US$ 15 milhões / ano (média)
·         Saldo: US$ 79 milhões/ano

Entre 2003 e 2014 (governo PT antes do processo de golpe)

Exportação para Cuba: US$ 384 milhões / ano (média)
Importação de Cuba: US$ 61 milhões / ano (média)
Saldo: US$ 323 milhões/ano

No ano de construção do Porto de Mariel, essa exportação alcançou valores acima dos US$ 500 milhões / ano.
O Brasil, através do BNDES, concedeu empréstimos de cerca de US$ 900 milhões para a construção do Porto. Esse empréstimo foi vantajoso para o Brasil.
Analisando os dados de balança comercial, ao longo do governo do PT (2003-2015), temos o seguinte:

·         Exportação para Cuba: US$ 5 bilhões
·         Importação de Cuba: US$ 795 milhões
·         Saldo: US$ 4,2 bilhões

Pela balança comercial Brasil-Cuba no período do governo do PT, o país teve uma entrada de capitais de Cuba da ordem de US$ 4 bilhões (ou R$ 12 bilhões) e emprestou US$ 900 milhões para Cuba fazer seu porto. Isso na prática, representa dizer que Cuba já pagou para o Brasil a Obra do porto multiplicada por 4 e o empréstimo foi muito vantajoso para o Brasil se levarmos em consideração que Cuba passou a adquirir muito mais produtos e serviços do Brasil e ajudando a gerar empregos no Brasil.
Os números que pesquisei mostraram que o Porto de Mariel gerou cerca de 20000 empregos no Brasil além de ter gerado muitos empregos em Cuba também.

Para Cuba, esses acordos comerciais foram vantajosos?

Eu particularmente entendo que sim pelo seguinte motivo. Cuba não tem um país autossuficiente e não possui fontes de energia e água suficiente para instalação de indústrias de grande porte, e necessariamente precisa importar produtos. O que Cuba importava do Brasil por acordos comerciais, provavelmente já importava de outros países (ou seja, o dinheiro saía do país de qualquer jeito) e não tinha contrapartida. O Brasil de certa forma ofereceu contrapartidas para isso que levaram vantagens aos cubanos sem que o país tivesse que ter prejuízo em algum aspecto relevante.

O cenário pós-impeachment

Como o impeachment se deu no ano de 2016, precisaria ter os resultados consolidados de 2017 para avaliar melhor se houve impacto do impeachment nas relações comerciais Brasil-Cuba.

Em 2016, o resultado comercial fechou da seguinte forma:

·         Exportação para Cuba: US$ 321 milhões / ano
·         Importação de Cuba: US$ 55 milhões / ano
·         Saldo: US$ 266 milhões/ano

Em 2015, ano anterior, os resultados comerciais foram:

·         Exportação para Cuba: US$ 513 milhões / ano
·         Importação de Cuba: US$ 51 milhões / ano
·         Saldo: US$ 462 milhões/ano

Comparando 2016 (ano do impeachment) com o ano de 2015, concluímos o seguinte:

·         Exportação para Cuba caiu 48% (US$ 513 milhões / ano)
·         Importação de Cuba subiu 7% (US$ 4 milhões / ano)
·         Saldo caiu 42% (US$ 462 milhões/ano)

No comercio com Cuba, houve perda de aprox. US$ 200 milhões/ano (R$ 600 milhões) e perda potencial de cerca de 20 mil empregos diretos+indiretos que estavam ligados a Odebrecht e as suas subcontratadas/prestadoras de serviços e fornecedores.
Eu fiz esse cálculo estimado para os países onde as construtoras brasileiras atuavam e cheguei em perdas da ordem de US$ 50 bilhões / ano em exportações para esses países.
Durante o processo do golpe, posto em prática em 2014, houve uma perseguição forte sobre os empréstimos do BNDES as construtoras e muita pressão da mídia sobre esse tema associando que o BNDES estaria praticamente “doando” dinheiro para esses países em vez de investir em obras dentro do Brasil e que isso estaria dando prejuízos ao Brasil.
Analisando esse caso de Cuba, podemos ver que para o Brasil o empréstimo concedido de US$ 1 bilhão geraram para o país US$ 4 bilhões e, se levarmos em consideração que, do valor total exportado de US$ 5 bilhões para Cuba, 20% tenha voltado em impostos, isso representaria US$ 1 bilhão que voltaram para o tesouro e conseqüentemente, o dinheiro emprestado pelo BNDES já voltou para o tesouro de forma direta.
O problema maior foi que, com a atuação da Lava Jato e a paralisação do BNDES, o Brasil teve uma perda estimada de US$ 50 bilhões por ano de entrada de capitais (R$ 150 bilhões) e isso foi um dos fatores que impactou nas receitas de 2016 e 2017 a ponto do país fechar 2017 com déficit de R$ 200 bilhões e não saber como fechar as contas.
O país teve queda de receita e precisaria, em contrapartida, reduzir as despesas. Eu imaginei que o governo Temer iria fazer isso e que ele tivesse uma carta na manga para compensar essas perdas de exportação na America Latina e África (algo conseguido por Lula), mas pelo visto não tinham, e também não tiveram coragem de reduzir o contingente e verbas para o Judiciário e para a Policia Federal e Ministério Público.
Dentro desse cenário, eu não vejo solução nem a curto e nem em longo prazo e nem sem Lula (porque todo esse superávit comercial com países da África e America Latina foi conseguido pelo Lula)

Irei postar mais dados de Comércio Exterior do Brasil com outros países da America Latina e da África, especialmente onde as construtoras brasileiras atuavam.


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